quinta-feira, 16 de julho de 2009

Só muda o nome ...

Documento histórico de 1934, onde os alentejanos, poetas de primeira àgua, sem alaridos anti-fascistas, mandavam coisas destas ao Governo de Salazar!

De uma actualidade pungente!!! Só muda o nome dos ministros....

"

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Agricultura

- E X P O S I Ç Ã O -

Porque julgamos digna de registo

a nossa exposição, senhor Ministro,

erguemos até vós, humildemente,

uma toada uníssona e plangente

em que evitámos o menor deslizee

em que damos razão da nossa crise.


Senhor: Em vão, esta província inteira,

desmoita, lavra, atalha a sementeira,

suando até à fralda da camisa.

Falta a matéria orgânica precisa

na terra, que é delgada e sempre fraca!

- A matéria, em questão, chama-se caca.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.

Se os membros desse ilustre ministério

querem tomar o nosso caso a sério,

se é nobre o sentimento que os anima,

mandem cagar-nos toda a gente em cima

dos maninhos torrões de cada herdade.

E mijem-nos, também, por caridade!

O senhor Oliveira Salazar

quando tiver vontade de cagar

venha até nós solícito, calado

,busque um terreno que estiver lavrado,

deite as calças abaixo com sossego,

ajeite o cú bem apontado ao rego,

e… como Presidente do Conselho,

queira espremer-se até ficar vermelho!

A Nação confiou-lhe os seus destinos?

...Então, comprima, aperte os intestinos;

se lhe escapar um traque, não se importe,

… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?

Quantos porão as suas esperanças

n'um traque do Ministro das Finanças?

...E quem vier aflito, sem recursos,

Já não distingue os traques dos discursos.

Não precisa falar! Tenha a certeza

que a nossa maior fonte de riqueza,

desde as grandes herdades às courelas,

provém da merda que juntarmos n'elas.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.

Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...

Tragam-nos merda pura, do bispote!

E todos os penicos portugueses

durante, pelo menos uns seis meses,

sobre o montado, sobre a terra campa,

continuamente nos despejem trampa!

Terras alentejanas, terras nuas;

desespero de arados e charruas,

quem as compra ou arrenda ou quem as herda

sente a paixão nostálgica da merda…

Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.

Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa

das inúteis retretes de Lisboa!...

Como é triste saber que todos vós

Andais cagando sem pensar em nós!

Se querem fomentar a agricultura

mandem vir muita gente com soltura.

Nós daremos o trigo em larga escala,

pois até nos faz conta a merda rala.

Venham todas as merdas à vontade,

não faremos questão da qualidade.

Formas normais ou formas esquisitas!

E, desde o cagalhão às caganitas,

desde a pequena poia à grande bosta,

de tudo o que vier, a gente gosta.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...

E nunca precisámos de outra coisa.


Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo

Évora, 13 de Fevereiro de 1934

O Presidente D. Tancredo (O Lavrador)

"Quem viver aflito, sem recursos, já não distingue, os traques, dos discursos." Genial!

1 comentário:

duarte disse...

olá malagueto
já conhecia...via leandro vale.
mas é sempre bom lembrar.
abraço do vale